Sonia Andrade

Brasileira, 1935 – 2022, Rio de Janeiro.

Bio

© Zzn Peres

Os primeiros vídeos marcantes de Sonia Andrade eram ações gráficas chocantes que mostravam seu próprio rosto e suas mãos – beliscadas, arrancadas, perfuradas e presas com fios e arames de náilon. A arte corporal e as declarações feministas por meio da arte surgiram como uma sensação internacional na década de 1970, mas as imagens de Andrade eram distintas – estranhamente silenciosas, mas inesquecivelmente intensas. Na época em que foram criados, seus vídeos eram um cheiro da vida sob a ditadura militar. As obras continuam sendo bombas-relógio. Elas ainda carregam a potência de todas as condições de supressão, todas as situações que induzem à tortura e o impressionante legado e as implicações espirituais da autoimolação. Em outro vídeo centrado no corpo/ação, Andrade investigou o entorpecimento subjacente induzido pela televisão corporativa e pela mídia de massa, usando humor e horror. Em “Feijão” (Feijão, também conhecido como Sem título), de 1977, ela se senta diante de uma refeição típica brasileira. Um seriado de TV e comerciais passam ao fundo. Em vez de pacificar as massas, ela apresenta um impacto alternativo da cultura publicitária onipresente. De repente, quase como se estivesse possuída, ela pega a comida e a espalha na cabeça, depois no rosto e dentro das roupas. Para dar mais força ao seu protesto, ela atira feijões pretos na câmera até cobrir a lente. Cena final. Ainda mais incisiva, em Untitled (Sem título), 1977, a artista fica diante de quatro TVs e desliga cada uma delas, enquanto repete a frase “Turn Off the TV”… por quase dez minuto. Ela usa a autoridade da mãe coletiva e a provocação da repetição para advertir o poder suspeito e sorrateiro da mídia regulada pelo Estado.

A formação artística de Andrade incluiu estudos no Studio Maria Tereza Vieira e aulas ministradas por Anna Bella Geiger no M.A.M (Museu de Arte Moderna do Rio). Seus contemporâneos, incluindo Fernando Cocchiarale, Arlindo Machado e Letícia Parente, produziram salões, obras de arte, escritos teóricos e exposições com o objetivo de protestar contra o rigor efêmero da estética convencional e a ameaça onipresente da censura sob um regime autoritário. Os meios artísticos variavam de desenho, montagem, arte encontrada, arte postal, gráficos, fotografia, apropriação, projeções multimídia, vídeo de canal único e multicanal e também instalação e performance. Os artistas estavam buscando novos caminhos para a expressão e novos meios para envolver e refletir um público além dos círculos de arte.

O ímpeto e a dinâmica experimental da década de 70 influenciaram o trabalho (provavelmente) mais conhecido de Andrade, a instalação Hydragrammas (1978-1993). Apresentada em várias formas e locais, ela era composta de aglomerações – uma miríade de mais de 100 pequenos objetos encontrados e produzidos e seus dopplegangers expressos em fotografias e construções. O artista colocou esses objetos em mesas para incentivar os espectadores a examiná-los e conjurar relações inferidas e imaginárias entre esses pontos de evidência. O que é invisível fornece valência ao visível e vice-versa – a arte é um ato participativo.

Ao longo de sua carreira, o trabalho de Andrade foi amplamente exibido no Brasil e internacionalmente, com destaque para o Centre Pompidou e o Louvre (Paris), o Museum of Modern Art (Nova York) e o Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia (Madrid). Esses museus, além da Universidade de Harvard (Cambridge), do Getty Institute (Los Angeles), do Sammlung Verband (Viena) e do Museum fur Gestaltung (Zurique) estão entre as instituições internacionais onde suas obras foram adquiridas.


O vídeo permaneceu central em seus trabalhos no século XXI. A ambiciosa instalação de Andrade, Get with Child a Mandrake Root (Obtenha com a criança uma raiz de mandrágora), de 2010, abrangeu 25 monitores de vídeo para explorar crenças antigas e propriedades mágicas associadas à planta. Entre 2001 e 2017, ela também produziu instalações que incorporavam projeções de vídeo com cristais e rochas e luz e sombra para evocar Tempo, Espaço e Reflexão. A artista protestou contra a imposição do ruído, o ritmo implacável e a persistência das complicações da vida contemporânea, oferecendo uma alternativa meditativa e poética.

Filmografia

  • Sem título (fios) (1974-77)
  • Sem título (1974–77)
  • Sem título (gaiolas) (1974–77)
  • Sem Título (tesoura) (1974–77)
  • Sem título (martelo) (1974–77)
  • Sem título (feijão) (1975)
  • Telefone sem fio (1976)
  • A morte do horror (1981)
  • Intervalo (1983)

BFVPP Ensaios

Marisa Flórido, 2022

Como se dá nossa relação com as imagens? Como se dá nossa relação com o mundo mediado por imagens? Como se dá nossa relação com as imagens mediadas por tecnologias (como o vídeo), mídia (como a televisão) e outros dispositivos de exibição (como o sistema de arte)?

Marcella Lista 2022

A obra de Sônia Andrade ainda hoje é amplamente desconhecida. Os limites da infraestrutura institucional no Brasil e as exigências correspondentes que a artista impôs com relação à formulação e ao tratamento de seu trabalho fora do mercado de arte desempenham um papel revelador nesse estado de coisas.

Recursos

Bibliography

ART SYSTEMS BRAZIL & THE 1970S

Elena Shtromberg

Elles

Volume de ensaios de vários autores.Editora – Getty Publications, 2023

Sonia Andrade : Arte e techologia (2010)

Catálogo da exposição : Elena Shtromberg, Maria Florido Cesar
realizada no Instituto Oi Futuro (RJ) em 2010.at Oi Futuro Institute (RJ) in 2010.

Sonia Andrade : Video Art 1974-2005( 2005)
Centro Cultural Banco Brasil.

COLEÇÕES INSTITUCIONAIS INTERNACIONAIS

As obras de arte de Sônia Andrade estão presentes nas coleções públicas de importantes instituições, como
Centre Pompidou , Getty Research Institute , Harvard Art Museums